sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Pretendo lançar este ano, ainda, ROTEIRO DO DESAJUSTE. O mundo será o mesmo e sei que ficarei com caixas de livros em casa, mortos pelos cantos. É assim: distribuir constrangido palavras... Lança-se livros por desejo de comunicar algo, uma projeção do ego, do self, de valores e de pedidos de socorro. lança-se.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
isso que sobra
o nervo exposto
a falta, o degredo
nada do qual
já não fui morto
e enterrado
ricardo borges
rborges.net
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
DE TUDO QUE NÃO VEJO
Algo abaixo dos meus pés se move
Abaixo das minhas células, de mim
Logo ali, perto, junto do que sou
Algo abaixo pulsa, debaixo do solo
No invisível urbano, nos bueiros
Em mundos submersos de esgotos frios
Na intriga dos neurônios feitos de gases vivos
Algo de tal inconsciência que esqueço e ignoro
Eduardo Borges
Teresina, 24/08/2009
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
sábado, 15 de agosto de 2009
domingo, 2 de agosto de 2009
Oh minha cidade
Certa vez um homem do sul perguntou-me: “- Em São Luís tem máquina de Xérox”? E eu respondi obediente e educado: “- Sim, lá tem máquina de Xérox”. Nunca pensei que fosse possível esta pergunta. Mas ocorreu de me perguntarem assim no meio da multidão, com uma naturalidade altiva. Bem, teria preferido noticiar que São Luís era uma cidade de objetos passados, de dejetos nas ruas, becos com nomes duplos – um de gente e outro de coisa -, museus de correntes negreiras, uma enorme serpente viva na Fonte do Ribeirão, igrejas ligadas por túneis e casas velhas. Cidade de mar e sal, cheia de homens e mulheres que viviam e batiam xérox. Andavam de carro do centro até o Viaduto do Café, embora em minha cidade nunca tenha havido um cafezal sequer. Mas tinha Xérox já em 1985. Na Rua Grande, a rua do comércio, os livros eram copiados e os papéis saíam quentes, como pães feitos naquela hora. Estava pronto para uma outra pergunta, que não veio: “ – Sim, em São Luís tem computador”. Mas a coisa é que jamais poderia dizer que em minha cidade francesa e portuguesa, lisboeta e parisiense em versos e sonhos de navios, tudo, todos os objetos e esquinas, tudo era um tipo de desculpa para viver o além da realidade, feita de Xérox. As coisas atravessavam os invisíveis túmulos das ruas do Sol e da Paz. E da Praça Dos Amores com a estátua de Gonçalves Dias. Não saberia explicar àquele rapaz de outro Brasil a tecnologia de minha cidade, muito, muito mais profunda que a mágica máquina de Xérox. Nem conseguiria levar ao seu cérebro o fedor do Poema Sujo saindo eternamente das palavras (Dentro da Noite Veloz) – se ele tivesse lido Gullar não perguntaria sobre uma máquina, falaria de gente nos quartos nus em redes. Não pude presenteá-lo com a indigência nordestina, com a indolência dos relógios parados sem olhos em paredes de azulejos multicoloridos, com a preguiça do calor infernal de um ponto no trópico latino. Sim, São Luís tinha Xérox na década de oitenta e poemas e corações aflitos. Isso foi há vinte e um anos atrás e São Luís tem a mesma alma.
*
Na Paulista
domingo, 19 de julho de 2009
bicho-eu
ainda o mesmo
e aos poucos o
que de mim
se move e
assombra
este bicho que
sou e desconheço
Ricardo Borges
rborges.net
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Olhos no mundo
A lucidez é uma delinqüência social
Estar exposto entre animais e ferro
Ver as flores no mundo que queimam
Ferrugens nas asas do avião cruzando o céu
Coragem em manter-se acordado nas muitas mutilações
Viver sem as fugas dos líquidos e dos pós inebriantes
Uma fera entre homens armados
A Consciência é a loucura incompreendida
Teresina, 11/04/08
Eduardo Borges
terça-feira, 23 de junho de 2009
r e le i tu r a
William Shakespeare:
"Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido,
quando usadas sem critério.
E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito,
mas para mostrar que são amigos.
Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer
maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.
Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil,
não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.”
eu, depois de injetar William Shakespeare:
Afinal
Aprendo com dificuldade a lógica da vida
E mal falo do amor por não saber vivê-lo
Por não ter critérios nem livros sem letras: sigo a racionalidade
Meu peito é terreno baldio, terra de ninguém
Não se entra e não se sai
É prisão sem chave porta aviso cadeado quebrado
Aprendo sem final, afinal
terça-feira, 2 de junho de 2009
segunda-feira, 18 de maio de 2009
O rio das ilhas
Da ponte que separa
As cidades partes de mim,
Chegam as imagens
Turvas de águas submersas.
O Parnaíba vindo de longe,
Como um ateu perdido e desolado,
Expõe-se entre ilhas vulcânicas,
Tumores em seu tecido heterogêneo,
Terras e florestas que emergem
Dos muitos afogados esquecidos
Em suas margens espectrais.
Assemelhamo-nos, não na grandeza,
Mas na pequenez do átomo, no submisso,
No ser atingido sem saber reagir.
Eu, o rio, as ruas, as pessoas e seus pés,
Somos igualmente degeneração.
Teresina, 07/03/08
Eduardo Borges
sexta-feira, 15 de maio de 2009
PALAVRA
Código
Eu amo a palavra
O sopro da boca
Cada sentido codificado
Riscado
Em sílabas ditas e malditas
Eu vivo conjugações
Verbos e vermes dos papéis
O risco
Os não’s e os sim’s das contradições
Uma letra somando-se a outra
O nome das coisas
O silêncio impresso
Os dicionários de bolsos velhos
E tudo que traduz o mundo
26/03/07
Eduardo Borges
Teresina
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Em tuas margens de novo
Deito em tuas praias
“oh minha cidade”
às três da tarde
cercados pelas
dunas amareladas
que já se foram
- agora tudo é deserto -
e engulo teu mar azul
engulo-o todo
toda água suja de óleo estrangeiro
de gente nascida dos confins
de tuas entranhas cheias de veleidade
de pontos cardeais perdidos
os portugueses não virão mais
levar nossas almas
nem os dejetos dos navios
que seguiam rumo ao teu porto
seguiam e já não seguem
que dormiam embaixo de um céu
enfadonho sem lua e sem sal
- já não dormem os navios -
eu bebo tuas águas
águas que foram de Portugal
teu banzeiro de ouro branco
a urina vertida entre as brincadeiras
dos meninos que vencem as ondas
entre chutes e mergulhos insanos
as mil e uma águas-vivas
e seus fios azuis que ainda queimam
minhas pernas atiradas na poeira fina
meu rosto nesta noite distante
deitado em tuas praias
engole todo o oceano
e me liberta
“oh minha cidade”
Teresina, 13/05/2009
eduardo borges
quinta-feira, 7 de maio de 2009
..............M O N Ó L O G O..............
Eu me pergunto,
nos dias de chuva,
tempestade e sossego,
onde estará o último suspiro,
a saída dos becos de São Luís,
aquela escada do colégio de minha juventude,
a moça que vendia compotas de doces,
o vento da praia em meu peito,
a monotonia das conversas,
- todas elas inúteis,
nas calçadas
mortas.
Eu me pergunto
neste dia de chuva
tempestade e
morbidez.
Teresina,
Eduardo Borges
17/04/09
sábado, 18 de abril de 2009
Nos Mapas Nos mares
A poesia contrapõe-se a este mundo louco, denunciando-o, cantando suas incongruências, dizendo deboches na beleza da tinta. O mundo é escravidão e nos servimos dele e de suas caravelas sequestradora de almas. Os navios negreiros, nosso mundo...
Caravelas
Os escravagistas ainda cruzam
Mares em seus navios velozes
Caravelas, submarinos, balsas
Feitas por mãos que se entregam
Ao domínio de outros reis em fuga
Os navios negreiros sobreviveram
Aos séculos cruzando os mapas
Teresina, 18/04/08
Eduardo Borges
terça-feira, 7 de abril de 2009
FOLHAS DE CONCRETO
Minha cidade carnaúba
- um verde claro amarelo de vegetação rasteira
Minha cidade Rio
- O Monge Da Costa e Silva
Minha cidade angústia
- Geléia Geral
Minha cidade coluna
- uma avenida divide o norte do sul
Cidade Louca
- Meduna prisão esquecida
Cidade pouca
- faltam saídas para os descaminhos
Minha Teresina, a cidade avizinha
- ainda se escuta o apito da velha usina
28/04/08
Eduardo Borges
segunda-feira, 6 de abril de 2009
|
sábado, 4 de abril de 2009
Directcion Home
Ando por duas cidades. Uma perdida num tempo que esqueci e que volta em imagens fluidas. Outra onde vivo minhas horas. Somos cidades, todos nós. Eu de volta às minhas casas, aqui e lá.
Direction home
Volto à cidade
Onde vivo
Seus dentes para cima
Arvoredos secos e velhos
Carros retorcidos em
Avenidas retas
Norte, Sul, Leste, soldados volvei!
O rio é uma sangria a oeste.
Houvesse um gigante, estes prédios
Seriam incômodos espinhos para os seus pés
Eu seria ainda uma formiga
Não fosse este vento quente
Faltasse este calor
Minha cidade seria estrangeira
E eu não falaria este português arrastado
Eu iria para Pasárgada.
Eduardo Borges
Teresina
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Adiando livro
A publicação do ROTEIRO DO DESJUSTE foi adiada, a quem interessar possa. Claro que escrevo este fato para mim mesmo (sempre escrevo para mim mesmo!), como uma forma de digerir a frustração. Falta grana. Tinha pensado um projeto visual interessante. Agora é esperar para publicar mais um livro que não será lido. Por enquanto vou postando alguns poemas do trabalho aqui:
Cartografia dos medunas
Pego a caneta e rabisco
A geografia do poema
É mesma do globo
Uma palavra é relevo
Conceitos imperialistas
Todos escrevem diferente
Sou brasileiro e estrangeiro
No sul se é pobre
O Norte é acima
Parágrafos são continentes
Os dicionários falam de política
O homem é população
Reconstruo a geografia dos mapas
Os homens em diversas cores
Palavras fronteiriças
Guerra de nervos
Pego a caneta e divido o território
O sofrimento está nos mapas
Passo a régua entre a pobreza e os ricos
Nas diversas Américas
O poema é em si um país
Teresina, 17/04/08
Eduardo Borges
Cartografia dos medunas
Pego a caneta e rabisco
A geografia do poema
É mesma do globo
Uma palavra é relevo
Conceitos imperialistas
Todos escrevem diferente
Sou brasileiro e estrangeiro
No sul se é pobre
O Norte é acima
Parágrafos são continentes
Os dicionários falam de política
O homem é população
Reconstruo a geografia dos mapas
Os homens em diversas cores
Palavras fronteiriças
Guerra de nervos
Pego a caneta e divido o território
O sofrimento está nos mapas
Passo a régua entre a pobreza e os ricos
Nas diversas Américas
O poema é em si um país
Teresina, 17/04/08
Eduardo Borges
domingo, 8 de março de 2009
Dia Internacional da Mulher
No dia Internacional das mulheres devemos lembrar que as diferenças de gênero quase nunca são vistas no seu sentido positivo, ou seja, geradoras de cidadania. Todavia, é na diferença que está a riqueza da vida. Há pouco tempo mulheres não votavam. Em cada canto do mundo homens agredindo suas companheiras protegidos pela cultura machista. Um dia festivo no mundo das distinções. Lembrando das diferenças, segue esta poesia, nesta data tão contraditória (no Brasil os homens recebem salários em média de 34% maiores que as mulheres em situação igualdade laboral: a maior entre os países pesquisados pela Federação Internacional dos Trabalhadores):
Dos odores e das flores
Passa o vulto de mulher desfilando na Europa de botas
- “Onde estás, Dolores, que teus filhos pedem comida na solidão da casa?”
Caminha em altar a nobre loira em sua fantasia de neve
-“E tu, Antônia, que ainda desenha o verde da roça a esta hora, depois do sol?”
O perfume feminino, decerto vindo de França, perturba os sentidos
-“Quando te sentes mulher, Violeta que lava as roupas no Rio Paranaíba com mãos brutas?”
O narcisismo doentio das lindas burguesas vestidas em peles de animais extintos
-“Maria, corre armada que a caça fugidia alimentará tuas crias e hoje só tem farinha na mesa!”
Passa a beleza, segue a fome, caminham mulheres em mundos tão distintos e belos
- “Camponesa de rara coragem, pés de barro, mãos de aço, a revolução ainda está em ti!”
Eduardo Borges
Barcelona
Dos odores e das flores
Passa o vulto de mulher desfilando na Europa de botas
- “Onde estás, Dolores, que teus filhos pedem comida na solidão da casa?”
Caminha em altar a nobre loira em sua fantasia de neve
-“E tu, Antônia, que ainda desenha o verde da roça a esta hora, depois do sol?”
O perfume feminino, decerto vindo de França, perturba os sentidos
-“Quando te sentes mulher, Violeta que lava as roupas no Rio Paranaíba com mãos brutas?”
O narcisismo doentio das lindas burguesas vestidas em peles de animais extintos
-“Maria, corre armada que a caça fugidia alimentará tuas crias e hoje só tem farinha na mesa!”
Passa a beleza, segue a fome, caminham mulheres em mundos tão distintos e belos
- “Camponesa de rara coragem, pés de barro, mãos de aço, a revolução ainda está em ti!”
Eduardo Borges
Barcelona
quinta-feira, 5 de março de 2009
Minha terra além da noite
Esta poesia, que estará no livro ROTEIRO DO DESAJUSTE, esteve na final do POEMARÁ, e refere a meu laço louco com São Luís:
Minha terra além da noite
O tambor
A crioula rodando
Mãos acariciando a pele
do boi morto que ainda urra
Minha mente confusa firme esmurra
o chão centenário
Um cheiro de álcool e fumaça cruza
transes levantando saias por detrás
dos mudos rosários
Casarões dançam entre pés descalços
Tudo penso e tanto faz
Minha terra tem batuque onde cantam os Orixás
(Eduardo Borges)
Minha terra além da noite
O tambor
A crioula rodando
Mãos acariciando a pele
do boi morto que ainda urra
Minha mente confusa firme esmurra
o chão centenário
Um cheiro de álcool e fumaça cruza
transes levantando saias por detrás
dos mudos rosários
Casarões dançam entre pés descalços
Tudo penso e tanto faz
Minha terra tem batuque onde cantam os Orixás
(Eduardo Borges)
segunda-feira, 2 de março de 2009
Em 2009
Um ano após SUSSURROS estou lançando outro livro de poesias chamado ROTEIRO DO DESAJUSTE, que nasceu de um projeto baseado nas idéias de mapas e dos "roteiros" que nos invadem a cada dia nesta sociedade louca. A imagem do "bueiro" como "retrato do inconsciente coletivo urbano" perpassa o trabalho. Qual o mapa das misérias humanas? Onde conceituamos os desajustes a um mundo doente? Não espero boa aceitação. Sigo na linguagem carregada, presa e livre.
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