sábado, 28 de maio de 2011





Pelo carro -
na turbulenta
tarde -
misturo meu
sangue às ruas
reluzentes
do sol imposto
na umidade da pele
Sou eu parado em
movimento nos
quadrantes
pintados dos becos de pedra
Em estradas que
não levam e não
trazem – descaminhos -
há/sombras/sobre/tudo/se/é/que/algo/é/existente
Ando em velocidade.
Tanta pressa!
Pelo carro,
através do vidro,
mesclo-me ao asfalto,
separado de cada corpo
de cada alma e pedra e beco,
duvidando da possibilidade,
do provável, de mim mesmo,
dos sinais da cidade e
das ondulações abruptas.
- as águas da chuva morna
- o calor torpe e doentio
- meus pés que se alongam no escuro da noite,
para longe dos pensamentos.
Vida, morte, continuidade.


eduardo borges
teresina, 18.04.2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011





a coruja é a eterna noite
entre árvores e estrelas
insônia selvagem e dor
já não dorme a coruja
ou nunca fechou os olhos
passado, presente e futuro
tormenta nas folhas suadas
pelo orvalho ácido escuro

Eduardo Borges
Teresina
26.04.2011

domingo, 15 de maio de 2011

A MINHA PARTE EM TUA NUDEZ

Em teus olhos cabe o mundo
todas as cores humanas
entre o branco e o castanho
do teu corpo nu

Em teus olhos cabe o mundo
a inconsciente dor das ausências
eu não existo em ti:
sou a sombra do teu corpo nu

Em teus olhos cabe o mundo
e não vês as tortuosas curvas
que te cercam e me matam
ao lado do teu corpo nu

eduardo borges
barcelona, 10/03/2010

domingo, 1 de maio de 2011

OMISSÃO






Calar-se
é matar a palavra
que brota
na hora da
alma.

Sangrá-la
entre os dentes já

desgastados
pelo
tempo.



A palavra
- signo invisível -

não morre,
apenas desa-
parece
dos
ouvidos
para em nossas
mentes
vibrar
como
um
sino,

uma sina.


Mato a palavra
Num canto do mundo,

surdo
aos clamores,

curto de compaixão,
curdo entre montanhas –

Fixo a mira
e atinjo o poema

antes de macular o mundo,

prestes a vomitá-lo
no banheiro
da casa.

(03.08.02)
Eduardo Borges