sexta-feira, 28 de março de 2008

Confira outra fotos do Lançamento.

quarta-feira, 26 de março de 2008



Lançamento do livro Sussurros

Foi através de suas andanças pelo interior do Maranhão como promotor público que o poeta Eduardo Borges juntou bagagem para fazer Sussurros. Uma coletânea de poesias recheadas de sentimentos angustiantes e nem por isso não belos, oriundos de quem conheceu de perto a pobreza e a condição de exclusão a que está submetida a grande maioria da nossa população.

Sussurros, o livro de estréia do ludovicense Eduardo Borges reúne uma coleção de poesias produzidas ao longo de oito anos. São textos idiossincráticos, como ele mesmo as define, surgidas de sua vivência e observações e é também um contraponto ao discurso literário sobre a verdade convencionada.

Há 14 anos como promotor, Eduardo passou por experiências que o fizeram transcrever para o papel toda a sua frustração em não poder mudar o sistema que cada vez mais oprime o homem simples. "Eu não posso negar que a profissão me transformou sob o ponto de vista da formação pessoal. Foi doloroso esse contato com a realidade muito crua", comenta. A total ausência do Estado mediante tais situações, no entanto, serviu como base para que sua poesia amadurecesse em termos de consistência. Se por um lado, como promotor, ele se sentia frustrado em não poder fazer jus à sua profissão, era na caneta que, como poeta, descarregava toda a sua revolta sobre a impotência.

A grande prova desta angústia encontra-se na primeira poesia, Declaração de culpa, onde o poeta diz "(...) Declaro-me pecador e culpado, não reconheço autoridades nem tribunais, detesto os homens detestando-me sem fim". O leitor mais sensível pode até se identificar com os textos, crus e viscerais, sem meias palavras que denotam um lirismo realista.

Autocrítico, Eduardo se define como um experimentador e diz estar longe de ser um artista. "Ser poeta para mim, é uma conquista que nasce do labor renitente. A arte é uma opção de vida, é um trabalho que exige dedicação". Para ele, Sussurros configura-se uma nova etapa, a qual revelará seu papel como artista. Esta trajetória, segundo (o poeta maranhense) Nauro Machado já está definida, como ele escreve na apresentação do livro. "Eduardo Borges neste seu livro de estréia indica e nos revela um percurso que haverá de levá-lo à plena realização dos seus versos, sobretudo nos poemas curtos, de uma contenção ancorada pela imagística que lhe é própria e de sugestiva força criadora".

Serviço:
O que: Lançamento do livro Sussurros, do poeta Eduardo Borges
São Luís - MA
Quando: 27 de março (quinta-feira)
Onde: Livraria Poeme-se (Praia Grande – São Luís)
Horas: 19h
Teresina-PI
Quando: data a ser marcada
Onde : Livraria DES LIVRES, Praça do Caribe - Shopping Riverside
Horas :

segunda-feira, 24 de março de 2008


Apresentação do livro pelo poeta Nauro Machado

Nesta "ilha de ilhas", como diz o poeta Eduardo Borges no poema "Biografia do Luto", constato mais uma vez que algumas vozes ainda desconhecidas no meio literário são-luisense, atingem por vezes uma altura pouco comum entre aquelas que aqui laboram há mais tempo em sua fornalha de sonhos.
Mas é também no "Esconderijo" de uma cidade "feita de barro", andando por suas ruas ou entre "paredes translúcidas" a lhe recordarem outros chãos, como aqueles que acolheram as angústias de Torquato Neto nos quadrantes da "Pompéia Teresinense", que Eduardo Borges, neste seu livro de estréia, indica e nos revela um percurso que haverá de levá-lo à plena realização dos seus versos: frutos verbais a que ele, diga-se de passagem, imprime uma cor pessoal, sobretudo nos poemas curtos, de uma contenção ancorada pela imagística que lhe é própria e de sugestiva força criadora.
Marcada pela angústia que, como ele sabe e diz tão belamente, "não tem pêlos nem olhos", sua poesia pode desde agora ombrear-se com a dos seus companheiros de geração, cujos pés, embora rastejando entre a areia movediça de um tempo injusto e cruel, intuem, na caminhada de suas noites, aquela antemanhã a que Eduardo concedeu o canto premonitório de uma liberdade coletiva.
Uma liberdade com que ele desde agora sonha, sabendo-se contudo ainda inerte diante da visão de "cinqüenta mil crianças órfãs na guerra do Burundi", apesar de, pelo verbo poético, testemunhar que a mão do verbo vale a mão à charrua, conforme dito pelo genial charlevillense.
Este livro se constitui numa bela surpresa, capaz de enriquecer o hoje feito pelos nossos mais jovens poetas.
Nauro Machado
Poesias extraídas do livro "Sussurros"

Declaração de Culpa

Declaro que não tenho amigos
Que sou anti-social
Que não gosto muito de pessoas
Declaro que me sinto pouco humano – sobrevivo
Confirmo minha crença nas drogas e guerrilhas
Na desordem para o regresso
Meu amor pelo abandono e pelo ócio
Minhas poucas virtudes e intolerâncias
Meu ódio, silêncio, o meu barril de palavras
Declaro-me pecador e culpado
Não reconheço autoridades nem Tribunais
Detesto os homens detestando-me sem fim


Biografia do Luto


Esforço-me
para ser
humano.
Luto visceralmente,
às quatro da manhã,
nesta ilha de ilhas,
em algum vagão de fornalha.


Hemofílico

Meu sangue
Escorre monotonia
Ondas de calor
Asfalto de uma avenida
Perdida



Nós

O lençol.
O calor de
tuas pernas
neste frio
interior.
Tudo me
conforta.
Nosso quarto,
teu útero.



O dia

Dorme a cidade em que nasci
e vou morrer, onde estiver, no calor das sombras,
no frio do sol que abate cabeças,
diminuindo o homem,
que anda e anda.

Há noite nas paredes sonolentas
que nos cercam no latifúndio escarlate do dia.


Mais...
Estes e outros poemas podem ser vistos nos sites poesia sim e blocos online, que reúnem ainda trabalhos de vários poetas nacionais.

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