quarta-feira, 13 de maio de 2009

Em tuas margens de novo





Deito em tuas praias
“oh minha cidade”
às três da tarde
cercados pelas
dunas amareladas
que já se foram
- agora tudo é deserto -
e engulo teu mar azul
engulo-o todo
toda água suja de óleo estrangeiro
de gente nascida dos confins
de tuas entranhas cheias de veleidade
de pontos cardeais perdidos
os portugueses não virão mais
levar nossas almas
nem os dejetos dos navios
que seguiam rumo ao teu porto
seguiam e já não seguem
que dormiam embaixo de um céu
enfadonho sem lua e sem sal
- já não dormem os navios -
eu bebo tuas águas
águas que foram de Portugal
teu banzeiro de ouro branco
a urina vertida entre as brincadeiras
dos meninos que vencem as ondas
entre chutes e mergulhos insanos
as mil e uma águas-vivas
e seus fios azuis que ainda queimam
minhas pernas atiradas na poeira fina
meu rosto nesta noite distante
deitado em tuas praias
engole todo o oceano
e me liberta
“oh minha cidade”

Teresina, 13/05/2009
eduardo borges