segunda-feira, 18 de maio de 2009
O rio das ilhas
Da ponte que separa
As cidades partes de mim,
Chegam as imagens
Turvas de águas submersas.
O Parnaíba vindo de longe,
Como um ateu perdido e desolado,
Expõe-se entre ilhas vulcânicas,
Tumores em seu tecido heterogêneo,
Terras e florestas que emergem
Dos muitos afogados esquecidos
Em suas margens espectrais.
Assemelhamo-nos, não na grandeza,
Mas na pequenez do átomo, no submisso,
No ser atingido sem saber reagir.
Eu, o rio, as ruas, as pessoas e seus pés,
Somos igualmente degeneração.
Teresina, 07/03/08
Eduardo Borges
sexta-feira, 15 de maio de 2009
PALAVRA
Código
Eu amo a palavra
O sopro da boca
Cada sentido codificado
Riscado
Em sílabas ditas e malditas
Eu vivo conjugações
Verbos e vermes dos papéis
O risco
Os não’s e os sim’s das contradições
Uma letra somando-se a outra
O nome das coisas
O silêncio impresso
Os dicionários de bolsos velhos
E tudo que traduz o mundo
26/03/07
Eduardo Borges
Teresina
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Em tuas margens de novo
Deito em tuas praias
“oh minha cidade”
às três da tarde
cercados pelas
dunas amareladas
que já se foram
- agora tudo é deserto -
e engulo teu mar azul
engulo-o todo
toda água suja de óleo estrangeiro
de gente nascida dos confins
de tuas entranhas cheias de veleidade
de pontos cardeais perdidos
os portugueses não virão mais
levar nossas almas
nem os dejetos dos navios
que seguiam rumo ao teu porto
seguiam e já não seguem
que dormiam embaixo de um céu
enfadonho sem lua e sem sal
- já não dormem os navios -
eu bebo tuas águas
águas que foram de Portugal
teu banzeiro de ouro branco
a urina vertida entre as brincadeiras
dos meninos que vencem as ondas
entre chutes e mergulhos insanos
as mil e uma águas-vivas
e seus fios azuis que ainda queimam
minhas pernas atiradas na poeira fina
meu rosto nesta noite distante
deitado em tuas praias
engole todo o oceano
e me liberta
“oh minha cidade”
Teresina, 13/05/2009
eduardo borges
quinta-feira, 7 de maio de 2009
..............M O N Ó L O G O..............
Eu me pergunto,
nos dias de chuva,
tempestade e sossego,
onde estará o último suspiro,
a saída dos becos de São Luís,
aquela escada do colégio de minha juventude,
a moça que vendia compotas de doces,
o vento da praia em meu peito,
a monotonia das conversas,
- todas elas inúteis,
nas calçadas
mortas.
Eu me pergunto
neste dia de chuva
tempestade e
morbidez.
Teresina,
Eduardo Borges
17/04/09
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