sábado, 19 de abril de 2008

A solidão dos Livros



A falta de um mercado editorial de poesia consolidado no nosso país dificulta muito a avaliação qualitativa da produção existente. Na realidade, as publicações alternativas, em fanzines, revistas bancadas pelos próprios autores, e, hoje em dia, em Bolg’s e Sites (internet), acabam por não ter a força de constituir um caminho para a profissionalização. Tudo muito nivelado (muitas vezes por baixo) e sem critérios. Claro que todos os espaços devem ser fortificados como opção literária e até como “lugar” para apresentação de trabalhos e poetas. É o mínimo que se espera de uma sociedade plural. Até a ausência de crítica séria e mais ampla faz falta (aí teríamos de discutir o que é uma “crítica séria”, “quem está autorizado”, etc.).
De regra, para lançar um livro, as pessoas usam recursos próprios, ou entram em projetos do Estado, dentre outras formas. Mas como divulgar e distribuir uma obra produzida pelo próprio autor? A solidão do livro não lido.
Observamos escritores com pilhas de livro em casa, em prateleiras de livrarias, num processo desestimulante. Quem compra livros de poesia?
Coloquemos este assunto na pauta do dia.
Eduardo Borges

2 comentários:

Anônimo disse...

Os autores que fizeram e fazem sucesso hoje no Brasil, sabem escrever e sabem como distribuir os seus produtos.
A distribuição de livros e revistas é um assunto que deve ser focado e esmiuçado para não ficarmos reféns de produtores inescrupulosos.

Anônimo disse...

Eu acredito que o contexto da produção artística mudou muito com a popularização da Internet. É o resultado natural dessa democratização da cultura. A Internet e seus usuários violaram as caixinhas de cd's e as embalagens de livros, rasgaram as etiquetas de preços e proclamaram o ideal da cultura acessível, não-taxada, democrática. Não foi uma pessoa só; diversos blogueiros do mundo inteiro postam cd's e e-books para download em seus sites. O anormal talvez seja inserir "cultura" num processo produtivo e numa lógica de lucro, vender "cultura". Esse processo de liberação que vivemos pode soar muito bonito, mas temos de analisar suas várias consequências. Uma primeira e bem importante seria a diversificação dos gostos culturais. Não existe mais o sujeito fã-de-Rolling Stones, o sujeito fã-de-Raul Seixas etc. Esses sujeitos, com seus salários, não tinham acesso a muitos cd's - a muita música. Hoje costuma-se ter milhares de cd's num só computador. As tribos urbanas hoje, também se diluem: difícil encontrar alguém (com acesso à Internet e que saiba usá-la) que aprecie apenas um estilo musical. Enretanto, alguns artistas sofrem com a mudança. Talvez uma solução seja que se encare o processo de produção de arte não como uma profissão, da qual se espera portanto retorno financeiro, e sim algo à parte. Muitos músicos hoje são concursados (nas mais diversas áreas) e deixam a música para os fins de semana. Funciona, para muitos. A ideia nova é a de que, a arte, a partir do momento em que é produzida, é de todos. Foi criada por uma pessoa a parte que merece lembrança, não perde sua importância, tem sua imagem ainda atrelada a sua obra; mas não faz sentido essa pessoa taxar sua arte: isso seria resultado de uma lógica distorcida que a busca por lucro historicamente impôs. Cultura é para todos, digamos assim. Recusa-se agora, ouvir uma música de uma banda nova, a menos que este cd esteja para download no site oficial do conjunto. Só aceitamos apreciar a obra alheia se ela não vier taxada. Esta nova visão é melhor do que a anterior? Mais adequada? Mais correta? Melhor para nosso viver de uma forma geral? Não sei ao certo, mas estamos vivendo-a, mesmo que não muito conscientes disso. A exclusão cultural acabou? De forma alguma! Diminuiu, e somente entre a classe com acesso à Internet. A produção cultural diminuiu? Também não, o que diminuiu foi sua repercusssão. Agora elas repercutem localmente, o que também serve para eliminar muitas anomalias, como a adoração doentia por bandas, artistas em geral. Agora uma observação mais subjetiva e menos fundada em fatos: esse desfacelamento do mercado artístico tem tornado quase toda arte mais sincera e próxima de quem a aprecia!